Perdi meu filho Lucas com oito meses de gestação. Demorei dois anos para engravidar e, quando finalmente consegui, foi mágico, mas logo em seguida começaram as preocupações.
Tive um descolamento de placenta logo no início e depois descobri que meu filho tinha uma má-formação do antebraço esquerdo. Foi uma angústia! Mas o amor que crescia dentro de mim era maior que qualquer obstáculo.
E quando tudo parecia que ia bem, com 34 semanas de gestação, no dia do meu chá de fraldas, eu não senti o Lucas mexer. Eu sou enfermeira, estava trabalhando quando pedi para uma colega escutar os batimentos para que eu ficasse tranquila, pois ele não mexia e eu estava preocupada, achando seria porque já estava apertadinho na barriga.
Foram minutos de desespero quando percebi que o som mais lindo que já ouvi na vida não era encontrado dentro de mim… Acabei indo para a cesárea e meu Lucas nasceu sem vida no dia 13/01/18.
Ver aquele rostinho lindo, parecido comigo e com traços do pai, era incrível e insuportável, pois ele não respirava. Foi assim que tive meu filho em meus braços… tudo muito rápido, tive vontade de leva-lo para casa mesmo sabendo que ali estava apenas o seu corpo e que sua alma já descansava em outro terreno.
Desde então minha vida não é mais a mesma, um misto de dor, raiva, culpa e indignação se misturam. É tudo confuso, você se pergunta mil vezes poque com meu filho? Por que comigo? Será que eu merecia isso? São muitas perguntas, a maioria sem respostas. E a dor… uma dor tão forte que parece que você não vai conseguir respirar, que parece que você nem está nesse mundo, que te anestesia, o tempo para e a dor te consome.
A saída do hospital foi dura, pois chegar em casa sem seu filho nos braços e com aquela barriga murcha foi terrível. Os dias passam e, como eu não tinha ele em meus braços, queria ter ele de volta dentro de mim. Passei um tempo estufando a barriga e acariciando ela na frente do espelho, tentando fugir da realidade.
Foram muitos recados, abraços, visitas, ligações, muitas palavras, mas nada me confortava. Marcamos uma missa, fomos orar e uma freira veio me abraçar. Eu estava chorando muito e ela me disse para sossegar meu coração. Eu falei para ela que só queria saber se ele estava bem e se sabia o quanto eu o amo. Ela sorriu e disse: “Tu tens duvida disso? É claro que ele está muito bem, ele está em paz e sabe a imensidão do amor que teve”. Foi uma das poucas palavras naqueles dias que me deram conforto.
Depois disso, mesmo sendo católica, fui procurar o Espiritismo. Li livros, tomei passes e encontrei conforto. Ganhei dois livros de duas amigas que me ajudaram muito, o primeiro que li foi “Quando a morte de um filho não é o fim do mundo” e depois “Jardim das margaridas”. Foi muito bom e depois disso comecei uma busca para entender o Espiritismo. Queria a todo custo achar um médium para entrar em contato com meu filho, até que me dei conta que eu não estava entendendo o consolo como deveria e depois comecei a aliviar meu coração.
Hoje fazem três meses que estou sem meu filho e ainda dói muito, mas a vida fica mais fácil de ser vivida. Você sente vontade de chorar, lembra sempre, mas consegue interagir com o mundo a sua volta. Uma das coisas que me doíam ainda mais é que eu tinha muitas conhecidas e colegas de trabalho grávidas junto comigo, e depois do que aconteceu cada vez que nasce uma dessas crianças, cada vez que vejo fotos delas no Facebook, sinto uma dor tremenda. Jamais quero que elas passem pelo que eu passei, mas é difícil tu ver todo mundo tendo um final feliz enquanto o teu é desastroso.
Agora já não me culpo tanto, não me questiono, simplesmente sinto a dor, choro, fico no quartinho dele tentando encontra-lo no que me restou que foram as coisas materiais que escolhemos com tanto carinho. E não tenho muita esperança que essa dor vá ter uma melhora do estágio em que está agora, pois para sempre vou lembrar dele em todos os momentos, nunca mais acho que vou me sentir completa.
Rezo muito e em minhas orações só peço a Deus que ele esteja bem, que esteja tranquilo, que saiba do nosso amor. E eu prometo que vou me manter em pé, seguir minha vida por ele, mas não é fácil, não. Enfim, queria aproveitar e dividir com vocês um pouco dos meus sentimentos.
me sinto exatamente como vc. tenho duas primas que tiveram seus bebês na mesma época que o meu, e quando vejo eles só penso era pro meu bebê tá desse tamanho. e quando via as mães irem embora da UTI com seus filhos e o meu ficando, sentia inveja e falava quando vai ser minha vez Deus. mas infelizmente não chegou esse dia .