O luto pela perda gestacional ou perda do bebê após o nascimento é uma das experiências mais silenciosas e solitárias da maternidade/paternidade. Não longe os pais sentem-se desamparados e sozinhos nesta dor. A cultura na qual estamos inseridos evita o contato com sentimentos e com assuntos que possam gerar desconforto e sofrimento, colocando a família que perdeu um bebê num sentimento de solidão profundo.
Para os pais e família que perderam um bebê (independentemente do tempo em que ele esteve na família) o luto envolve, além do bebê real, tudo que estava em torno dele: os sonhos, idealizações, projetos de vida, seu lugar na família e no mundo. A idealização é um processo psíquico que nos motiva e que nos impulsiona, e a perda de um filho deixa um vazio, um vazio que dói.
Pode ser difícil falar sobre a perda tanto para o casal como também para os avós e amigos. No caso de irmãos este processo pode ser ainda mais complexo. Contar para a criança que o irmãozinho não vem, que os planos feitos juntos terão que ser adiados, não é nada fácil, ainda mais neste momento em que os pais estão atravessando seu próprio luto. Porém abordar este tema se faz necessário e importante.
As crianças, assim como os adultos, têm maneiras diferentes de lidar com situações adversas, o que pode significar diferentes formas de lidar com situações tristes. Dependerá muito das características da personalidade de cada criança e da idade em que ela se encontra. Você conhece seu filho melhor que ninguém e desta forma saberá o melhor jeito conversar com ele sobre a perda.
Partindo disso, não há um jeito único ou correto de falar sobre isto. O mais importante é que possa ser falado de acordo com a singularidade de cada um e de cada família, respeitando seus limites, sua crença e costumes, mas que a verdade possa ser dita para que a perda do bebê não se torne um tabu, um assunto velado eproibido em sua família.
É preciso deixar claro para a criança que a morte faz parte da vida, mesmo que algumas vezes ela chegue antes de se ter vivido o bastante, como o caso de ter perdido um irmãozinho que ainda não havia chegado, ou que acabou de chegar e já partiu. Isso ajudará na elaboração do luto.
Não há como evitar que a criança sofra ou que ela perceba que os pais estão tristes, a criança vê na expressão facial do adulto que algo não vai bem, mas ela pode não saber o porquê. Este é um momento triste para a família, desta forma vale chorar, lembrar, expressar seus sentimentos e permitir que a criança expresse verbalmente ou da maneira que puder e quiser seus sentimentos e pensamentos. Às vezes um desenho ou uma cartinha para o irmãozinho poderá ajudá-la a expressar seus sentimentos. Não há nada de errado em a criança presenciar o sofrimento dos pais ou familiares, isto faz com que ela também consiga expressar o que sente.
As crianças podem demonstrar diferentes reações, como tristeza, raiva, comportamentos regredidos, agressividade, culpa ou não demonstrar reação, elas também terão seu tempo, assim como você. Talvez o assunto retorne algumas vezes e algumas perguntas e curiosidades podem surgir, às vezes o mais importante é poder ouvir o que a criança tem a dizer. É um tempo de elaboração que a criança necessita. Se você não estiver bem o suficiente para atender a estas solicitações, escolha alguém da família que se sinta melhor para conversar com seu filho sobre este assunto.
Poder falar com a criança e compartilhar com ela este momento difícil auxiliará tanto a ela como também aquele que fala. Dar nome aos sentimentos permite que a dor circule, e que aos poucos o luto possa ser elaborado, já que silenciar essa experiência pode tornar este processo ainda mais difícil para todos os envolvidos.
Respeite seus sentimentos, há um caminho a ser percorrido para que você possa se sentir um pouco melhor, gradualmente. Converse com amigos ou familiares quando sentir vontade. E não deixe de pedir ajuda quando perceber necessidade. A dor quando compartilhada pode tornar o caminho menos solitário e doloroso.
Excelente texto. Falar sobre a perda nos faz mais fortes sim. Não falar me parece pior, porque é como se quiséssemos esquecer àquela vida que se foi tão cedo. No meu caso, pelo menos, me sentia culpada quando não mencionava a Julinha. Já consigo falar mais sobre como tudo ocorreu e acredito que isso seja importante para vivência do meu luto.
Os bebês que perdi (dois no caso), não têm irmãos neste mundo, porém sou professora e é incrível o carinho e apoio que eles tem para com a minha pessoa, sem eles com certeza teria sido muito mais difícil 🤗