Já faz algum tempo que estou criando coragem para enviar meu depoimento. Tenho acompanhado a página e os depoimentos das outras mães, que assim como eu são mães sim, mas mães de estrelinhas 🌟💙
Tenho 26 anos e minha estrelinha se chama Lorenzo. No final do ano de 2016, descobri que estava grávida, não havia planejado a gestação e foi um tremendo susto quando confirmei a gravidez. Quando descobri eu já estava de 3 meses. Nos primeiros dias eu não queria aceitar. Mas depois comecei a sentir aquela famosa e tão desejada sensação que as mulheres tanto descrevem, a sensação de ser mãe e de amar um ser, que nem se quer conhecemos.
Comecei a sentir os enjoos, mal-estar, mas o que eu mais sentia era a presença de uma pessoinha que em poucos dias me fez esquecer todo o medo e insegurança que eu sentia. Resolvi então que enfrentaria as críticas e até mesmo o desagrado do próprio pai do Lorenzo. Foram dias tão intensos, eu posso dizer que em pouco tempo passei pelo melhor e pior momento da minha vida. O melhor momento foi poder olhar o Lorenzo nas imagens de ultrassom, descobrir seu sexo e poder ouvir seu coraçãozinho bater. Definitivamente não sei explicar a emoção e o tamanho do amor que senti, naquele instante eu descobri que eu podia amar muito mais do que eu imaginava, um amor que dói de tão grande que é.
O Lorenzo estava a caminho e eu já preparava o enxoval, mas toda essa euforia durou pouco, muito pouco… nos dias seguintes meu pesadelo iria começar. Descobri que o Lorenzo teria uma malformação, que o médico chamou de DFTN (defeito no fechamento do tubo neural) e que ainda não dava para saber quais as consequências dessa patologia. Meu mundo acabava de desabar e o médico ainda enfatizou que eu teria que tomar muito cuidado, porque em alguns casos o bebê parava de se desenvolver, chegando ao óbito.
Agora eu chego na parte que mais dói falar, na parte em que eu experimentei diversos sentimentos, inclusive alguns que eu não queria sentir. Não é fácil falar que eu cheguei a achar que não conseguiria amar mais meu filho pela malformação que ele teria. Eu me culpei, achei que era castigo. Desejei, em alguns momentos, até mesmo não tê-lo mais.
Esse é um assunto que eu até gostaria que fosse mais discutido, mas eu sei que não é fácil para as mães assumirem que tiveram sentimentos de negação perante a malformação do filho, mas isso acontece, e as mães experimentam as mais diversas sensações, divergem quando não desejam o filho, mas ao mesmo tempo sabem que o amam mais que tudo nessa vida. Mas naquele momento, quando vem o diagnóstico, o filho imaginado, o filho idealizado morre, e dá espaço ao filho real. Então a mãe passa também por um luto, o luto da perda do filho que ela imaginava que teria.
No meu caso, passei pelos dois lutos, perdi o filho que idealizei, sofri, desmoronei, mas o meu amor de mãe me levantava a cada dia, e pouco tempo depois, enquanto ainda estava no processo de aceitação da malformação do Lorenzo, eu o perdi… eu o perdi de vez… seu coraçãozinho não bateu para que eu o escutasse.
E a partir daquele momento eu me odiei, eu me culpei, eu só queria um jeito de trazer meu filho de volta, eu pedia a Deus para me devolver ele do jeitinho que ele fosse, ou que me levasse junto com ele. Quanta dor, eu nunca pensei que pudesse sentir tanta dor…
Meu filho havia parado de se desenvolver e eu já estava com 5 meses, mas ele havia morrido sem que eu percebesse, sem dar sinal, um pouco antes. Fiquei com meu bebê morto por alguns dias e, após a descoberta, mais dois dias, até que o parto foi induzido, pois meu aborto foi um aborto retido.
Quando ele nasceu, eu descobri que eu ainda podia ter dor maior, pois a dor de ver meu filho tão pequeno, todo roxinho, sem respirar, sem chorar, sem se mover, essa dor eu nunca vou deixar de sentir. Eu pude contar seus dedinhos, já estavam todos formadinhos, eu pude observar seus detalhes mesmo de longe porque não pude segura-lo, não permitiram, e essa é mais uma dor que eu carrego. Eu não pude me despedir do meu Lorenzo, não pude dar adeus ao meu filho, ele foi arrancado de mim, como se fosse um nada.
Um ano e dois meses depois e eu ainda ouço as batidas do coraçãozinho dele. Meu processo inicial de luto não foi nada fácil, cheguei a desenvolver gravidez psicológica, um mês depois da perda do Lorenzo. Eu cheguei a produzir leite, eu comprava roupinhas para ele, sentia meu filho mexer, me imaginava grávida e acreditava em minhas próprias mentiras… não foi um processo fácil.
Mas hoje eu me sinto mais forte, consigo falar sobre o Lorenzo para algumas pessoas, mas existem dias nublados em que a saudade aperta e a dor maltrata. Eu não me sinto menos mãe, eu sou mãe!!! Meu filho esteve aqui comigo, ficou por pouco tempo, mas foi o suficiente para me mostrar o verdadeiro significado do amor… 🌟💙