Sei que a dor vai passar e será transformada em saudade

Quando penso em você me lembro o quanto preciso ser forte para continuar, me lembro da expectativa quebrada e dos sonhos que, por momentos, parecem ter sido destruídos. Me lembro dos projetos que te incluímos, da esperança de tê-lo nos braços,  do medo que sentimos ao saber que você viria, das noites mal dormidas, dos desajeitos no estômago, do cansaço no trabalho, dos pés inchados – como me lembro dos “incômodos” da gestação.

Quando você fazia ondas em meu ventre era uma festa, a família toda reunida com as mãos em minha barriga querendo te conhecer através dos movimentos.

Me lembro da angústia que sentia ao pensar que teria que te parir, a ansiedade de como tudo aconteceria quando você estivesse pronto pra vir ao mundo tomava conta do meu imaginário, minhas emoções se exacerbavam. O medo da dor do parto me consumia,  contudo, num instante eu desmemorizava todo sofrimento e me lembrava que tudo – absolutamente tudo – valeria a pena. A maior recompensa seria ouvir seu chorinho e poder te sentir.

Não tive o prazer de ter você com vida fora de meu ventre, todavia, todos os momentos e movimentos dentro dele me fizeram entender a grandiosidade de conceber a existência.

Sou grata pela experiência da breve maternidade, que mesmo sendo curta não deixou de ser intensa. Há quem pense que enquanto escrevo estou lamentando ou questionando os fatos, mas na verdade, além de ser a forma que tenho mais afinidade para me expressar é uma forma de cura, quando escrevo Deus me cura um pouco mais, Ele traz à minha memória que Ele é meu consolo, refúgio e fortaleza, sou forte porque Ele está em mim.

A dor de não ter você me faz crescer, o luto faz com que eu chegue mais perto de Deus, consiga enxergar os milagres que Ele está fazendo através da sua partida, me sinto amada por Ele por viver esse breve momento da minha história e sei que a dor vai passar e será transformada em saudade. Quando esse dia chegar poderei contemplar os frutos deste sofrimento.

Já senti frustração por querer ser mãe novamente, mas voltei atrás e percebi que conceber a vida é o mais lindo presente de Deus. A maternidade é sublime, embora minha primeira experiência tenha sido breve, não perdi o desejo de viver o milagre da existência. Parece ilógico sonhar com a vida em meio à morte, mas nossa capacidade de sentimentos ultrapassa os limites da razão. Pode ser que eu sinta raiva por desejar a maternidade, mas será passageiro. Afinal, há dias e dias, cada amanhecer é um novo desconhecido que pode despertar as mais diversas emoções, entretanto, devemos permitir que os bons sentimentos sejam aflorados, eles devem ser nossa motivação para continuar garimpando pedras preciosas nas ruínas dos nossos traumas.