Para mim a história da Flora se inicia na praia de Picinguaba, numa noite clara de céu estrelado e uma lua cheia. Era noite de 27 de abril, meu aniversário. Eu e minha amiga-irmã, Juliana, descemos até a praia para admirar aquele fenômeno. A lua começou prateada, alta no céu, dividindo o cenário com as estrelas. Ela andava de encontro ao horizonte. Conforme se aproximava do mar ela ia se avermelhando até ficar tão vermelha como uma bola de fogo, como um sol de noite. No silêncio da madrugada dava para ouvir a lua chiando enquanto mergulhava na água. Sob aquela lua, eu e a Ju contemplávamos a cena, celebrávamos a natureza, celebrávamos a amizade, celebrávamos o feminino. Totalmente fora do calendário, antecipou meu ciclo e na volta desta viagem engravidei.
No último dia desta viagem visitamos uma cachoeira, deixei um espelho de presente para Oxum. Lavei minha alma.
Ao longo da gravidez estive conectada com a natureza, não é a toa que dei o nome para minha filha de Flora. Revisitei Picinguaba, grávida de seis meses, pouco antes de tudo acontecer. Voltei à cachoeira, estávamos sozinhas dentro d’água, eu, a Flora e minha mãe Oxum. Batizei a Flora, pedi proteção.
Duas semanas depois passei pelo momento mais difícil da minha vida. A Flora não vai mais nascer, não vai mais crescer.
Sob uma outra lua, sob um outro céu estrelado, eu e a Ju contemplávamos o céu da Serra. Vimos estrelas cadentes e junto dos silêncio das bocas e o canto da noite a neblina aos poucos aí apagando o céu.
Para mim a Flora é tudo o que é belo. Aonde vejo beleza, eu vejo a Flora. A cada céu estrelado, a cada flor se abrindo, a cada lua, no canto dos pássaros, no verde das árvores, no vento, na cachoeira e no mar, eu vejo a Flora. A cada troca de carinho, no amor das amizades, a cada abraço, nas minhas amigas que se fazem tão presente nesse momento (até estando longe), na força das mulheres da minha família, no amor, eu vejo a Flora.
Diante da dor da perda estou em movimento, me ouvindo no silêncio da solidão da dor, me conhecendo e me surpreendendo comigo mesma. Essa descoberta do Eu também é bela. Também vejo a Flora.
Diante desse desconhecido eu exerço a humildade de ver e me ouvir. De aprender comigo mesma, com os outros, com a Flora. E assim as palavras que repito todas as noites se constroem ao longo do dia: Obrigada Universo pela oportunidade. Obrigada Universo pela oportunidade de gerar. Obrigada Flora por me escolher. Obrigada pelo aprendizado e momentos juntas. Flora você é linda. Você é amor. Você é luz. Te amo minha filha’.
Júlia!!!
Aqui estou novamente!
Que linda essa ligação que você tem da Flora, com a natureza, com as “pequenas” coisas do dia a dia. Agradeço muito de ter conhecido você, em situações não tão boas, mas conhecer o ser humano incrível que você é!
Flora, ama muito a mamãe dela pode ter certeza.
Um grande beijo no seu coração!
Aline mamãe da Júlia ❤