Sumaré, 20 de julho de 2018
Oi minha filha,
Faz um tempo grande que a mamãe não escreve, mas isto não quer dizer que a mamãe se esqueceu, acredito que saiba que a mamãe pensa em você todos os minutos, e que não há sequer um dia que uma dor profunda não invada o peito e faça uma lágrima cair dos olhos ou do coração. Daqui alguns dias já terá se passado um ano que você se foi, que deixou este buraco tão grande em meu peito, às vezes parece que o tempo passou tão depressa e que estou abrindo os olhos naquele dia 10 de agosto de novo, mas às vezes parece que o tempo passou tão devagar que já faz 10 anos que este dia se passou, e que já vivi tanto depois daquele dia.
Mas tenho que admitir também, minha filha, que a vida não está sendo ruim para a mamãe. Neste um ano descobri que o amor ultrapassa qualquer barreira, ultrapassa qualquer limite que um dia alguém impôs, que com o tempo ele aumenta, estica e invade cada poro.
Descobri que existem pessoas que não valem a pena, e que elas simplesmente não se importam, e que o mais importante é que eu sei da nossa história, onde ela está e o que significa.
Descobri pessoas também que hoje eu não viveria nunca mais sem, pessoas que estão conosco, minha filha, que não entendem a nossa história, mas a respeitam, e que existem pessoas, filha, que têm uma história parecida com a nossa e vivem seus dias, cada um à sua maneira e que conseguem juntar seus pedacinhos.
Descobri também que existem pequenas coisas que eu nunca havia olhado antes e que com a mudança de pensamentos que a sua morte me trouxe eu hoje consigo ver e enxergar, consigo agora me permitir viver estes pequenos momentos.
Descobri também que juntar os cacos e se reconstruir é possível, mas que me tornar uma pessoa melhor não significa me render ao mundo, deixar o mundo dizer o como tenho que pensar e agir, e sim me permitir viver os momentos de alegria e de tristeza no tempo em que eles se apresentam para mim. Descobri que havia muita coisa que eu achava que estava certo, mas de longe era a coisa mais errada do mundo, assim como o contrário também.
Descobri que não é a presença física que torna algo importante, e sim toda a história e sentimento que isto carrega em si, seja um momento, uma pessoa ou objeto. Descobri que o material não te diz quem você é, ou o que quer ser, e sim o sentimento que carrega no peito.
Descobri que não será uma nova gravidez ou um bebê no colo que acalmarão meu coração, que trazer ao mundo um novo ser nunca ocupará seu lugar, este que sempre foi seu e sempre será.
Descobri que tenho medo, muito medo de te esquecer, mas descobri também que isto é algo impossível de acontecer. Descobri e continuo descobrindo todos os dias algo novo, algo grande, algo que me torna melhor, para mim, para nós, para o mundo.
Descobri que fui, sou e vou ser feliz, com um pedaço, que nunca será preenchido por nada e nem por ninguém, faltando, mas que é possível ser feliz, viver todos os dias de forma plena, sem romantizar ou criar monstros para o mundo.
Descobri que existe vida após a morte, a minha vida plena e feliz com você morando no meu coração e pensamentos todos os dias.
Te amo filha minha. Para sempre minha borboletinha Aurora.
Sua mãe.
Posso dizer que nove meses após, meu sentimento é esse: de incompletude, de um vazio que nunca será preenchido, de saudade e de inúmeros se…
Que teu coração possa sempre ser confortado através daqueles que estão aqui e de tudo que está por vir. A vida ainda há de nós reservar muitos momentos felizes. Amém!