Essa pergunta martelou em minha cabeça insistentemente a cada dia que se seguiu após a morte da minha menina.Desejei tanto aquela gravidez! Queria tanto aquele bebê! Sonhava em tê-la nos braços e exibi-la ao mundo com o dobro de orgulho que exibia a minha barrigona! Planejei cada detalhe, desde as roupinhas ao primeiro passeio. O quarto, a escola em que estudaria, os passeios que faríamos juntas. Como seria nosso primeiro Natal ou seu primeiro aniversário. Já suspirava de imaginá-la engatinhando pela casa e rindo sapeca para mim.
Mas tudo isso desmoronou em segundos! Nada foi do jeito que eu imaginei. Nem de longe.
A primeira vez que a tive em meus braços ela já não respirava. Mesmo assim a aninhei em meu colo e tentei segurar ali todos aqueles sonhos.
Eles não poderiam escapar! Nunca!
Mas, em poucos instantes a levaram de mim. Minha menina! Devolvam ela! Digam que está tudo bem e que foi um engano, por favor! O bercinho está pronto esperando por ela, com uma boneca que eu e seu pai compramos! Os brinquedos na estante, as roupinhas no armário.
Mas, contra minha vontade, precisei engavetar também os meus sonhos. Todos aqueles que contava os segundos para acontecer e que não consegui segurar em meus braços. Por mais que eu gritasse em silêncio. Por mais que eu implorasse para que ficassem, eles se foram. Um a um. E eu fiquei aqui. Na maior solidão do mundo. Com os braços e o coração vazio. Vazio e em pedaços. Dilacerado…
E a dor me rasgou ao meio. A pior dor que eu já senti. Por quê? Por quê? Meu bebê tão amado e desejado! Por que comigo? Como eu iria viver sem ela? Sem uma parte minha, sem um pedaço meu.
Sentia o peito esmagado e faltava o ar. Faltava o ar e a vontade de continuar vivendo. O que seria de mim? Nada fazia mais sentido. O chão havia se aberto num buraco sob meus pés. Como viver agora?
Os dias se passaram. Um a um. Doloridos numa dor sem fim. Sufoco. Engasgo. Sem luz, sem vida, sem sentido…
A vida seguia lá fora. O mundo não parou por causa da sua partida. Como não? Como as pessoas conseguem continuar respirando se minha menina não está mais aqui? Barulho na rua, festa, buzinas e rojões. Por que festejam? É Copa do Mundo, eu sei. Mas a camisetinha da seleção que eu comprei para ela ainda está lá, dobradinha na gaveta. Perfumada. Sem uso. Na mesma gaveta que eu ainda não tive coragem de mexer. Aquele cheirinho de bebê nas roupinhas. O frescor do sol nos lençóis ainda se fazia presente. Por que comigo? Por que com o meu bebê?
Desde aquele 11 de abril de 2014 que carrego essas perguntas aqui dentro. Já pesaram como uma grande pedra presa às minhas costas. Hoje, como pedregulhos no bolso. Mas estão lá e me cutucam vez em quando. Uns dizem ser missão, karma, destino. Eu não sei. Para mim aconteceu e pronto. Sem motivo algum. Se tem alguma resposta certa? Não importa mais. Nada pode apagar o que vivemos nem o que aconteceu com minha filha. Então sigo. Da melhor forma possível. Sei que nunca mais serei a mesma. O amor me transformou! O amor que transborda do peito me faz ver a vida hoje de outro jeito. Algumas vezes (ou muitas, confesso), preto no branco. Em outras (e que bom!), vejo muitas e muitas cores! São 3 anos, 7 meses, 23 dias e 18 horas sem minha menina. E o amor só aumenta a cada dia. Que eu possa ser alguém melhor. Procuro ressignificar o que aconteceu comigo ajudando outras mães que se despedem tão cedo de seus amores. Desejo que esse amor imenso, arrebatador, alcance muitas pessoas. Quero dar à morte da minha filha um propósito, um significado. Pois foi com a chegada dela e com sua breve estadia que aprendi que esse amor só multiplica. Diariamente. Que cuidar de outras mães seja a minha cura!
Meu nome é Aline, a 2 meses minha Maya partiu…. ainda estou em buscas de respostas (se é que existe alguma)…pois ela veio a este mundo através de uma gestação saudavel e tranquila, com 40s + 5 dias ela nasceu via parto normal e viveu por 17 dias….e agora estou aqui….sem saber…sem sentir….buscando entender….