Quando você pensa no primeiro filho que perdeu e vê as mulheres que estavam grávidas na mesma época que você grávidas novamente. Parece que seja quem for Deus, seja um ser ou uma energia, parece que ele esqueceu de você.
Para quem foi cria de uma ideologia judaico cristã, o sentimento de punição é inevitável. Qual barbaridade poderia uma mulher cometer para ter seus sete filhos mortos dentro do seu útero?
Em nenhum dos meus pesadelos mais obscuros sequer cogitei que isso pudesse acontecer com alguém. Mas aconteceu. Comigo.
Depois que você perde um bebê, as pessoas te olham como se você fosse uma nuvem escura – afinal, existe luto para um feto?
Sorria…
Esqueça…
Daqui a pouco você tem outro (como se fosse um sapato com um salto quebrado).
Você é jovem (embora seus óvulos estejam repletos de granulações e alterações, compatíveis com uma mulher de 50 anos).
Adota que rapidinho você engravida (como se adoção fosse um tratamento de fertilidade).
Imagina se nasce com algum probleminha (Igual ao seu? Seria péssimo mesmo ter um filho que não tenha desenvolvido empatia).
Sorria
Esqueça
Vai passar
Pronto. Parada numa esteira rolante de aeroporto. A vida vai passando. Tudo a sua volta passa. E você ali. No mesmo ponto. Na mesma dor.
Você percebe que outras mulheres que passaram por isso têm outros filhos. De antes ou depois. E guardam aquela tristeza mas “seguem o baile”…
E você luta
Luto
Eu luto
Eu vivo o luto
E luto
Para que toda a dor silenciada de mulheres que perderam seus filhos seja falada abertamente.
Eu vi pessoas deixarem de falar comigo por não conseguir encarar a dor. Por não entender a dor.
Eu vi pessoas que não queriam olhar para mim porque eu refletia a inexorabilidade da vida. De uma vida. De sete vidas.
Gata infeliz
Sorria
Ande
Trabalhe
Estude
E lute.
Eu luto. Em luto
Ultrassons, exames de sangue, injeções, cirurgias
Sangue
Dor
Hematomas
Frustração
Enquanto outras saem com bebês, pelas minhas mãos escorrem coágulos.