Tem dias que o coração parece que vai parar

Como é difícil seguir em frente depois de uma perda seja gestacional, natimorto ou neo. É um misto de sentimentos, saudade, dor, dúvidas.

Foram 36 longas semanas, um amor incondicional desde o positivo. Ah, como eu amo minha filha. Podem se passar anos e ela será única! Foram tantos sonhos, alegrias, esperanças e ansiedade. Meu sonho era ver seu rosto, pegá-la em meus braços, beijá-la e contemplar como é grande o Poder de Deus, Ele é magnífico! E mesmo com tudo que aconteceu, não deixei de acreditar em seu poder.

Às 21 semanas, papai, mamãe e maninho descobriram que teriam uma princesa. Naquele dia me senti a mulher mais feliz e realizada neste mundo. Tudo corria bem, fizemos o chá de bebê, nos exames estava tudo normal, a não ser pela ultrassonografia morfológica, que o médico não pediu, mesmo eu já tendo alertado que meu filho, então com 13 anos, tinha nascido prematuro de 32 semanas e que eu já havia perdido uma menina de mais ou menos 18 semanas.

A sua chegada estava prevista para janeiro de 2018, lá pelo dia 20. Mas ela, muito apressada, começou a dar sinal no dia 6. Mamãe, papai e titia foram felizes neste dia às 21h para o hospital. O médico disse que tinha dilatado 6 dedos e que Isabella provavelmente chegaria nas primeiras horas do dia 7. Foi um parto demorado, 6 horas e 40 minutos de trabalho de parto. Fiquei 40 minutos tentando fazê-la nascer. E ela nasceu roxinha, nem sequer chorou.

A pediatra não estava lá, então a médica que fez o parto a colocou em meus braços. Minha linda filha, tinha tanto cabelo, linda ela, enfim a levaram pra UTI e lá descobriram que ela tinha hérnia diafragmática congênita e, devido ao parto ser normal e termos feito muita força, ela não teria chances de sobreviver porque a saturação estava muito baixa. Até transfusão fizeram. Mas no dia 10 seu sofrimento acabou. Minha linda, tão esperada e amada teria ido para os braços do Pai.

E nós estamos aqui, tentando refazer nossas vidas, com muita fé em Deus. Mamãe está indo à psicóloga e tem dias que a dor é maior. Tem dias que o coração parece que vai parar e nesses dias eu choro. Não porque seja fraca, ou sem fé, simplesmente porque sou humana e preciso colocar pra fora. Nesses dias peço desculpas a Ela porque o meu choro é de muitas saudades. Nesses dias sinto Deus me pegar no colo e colher cada lágrima minha.

Não é fácil ser mãe de anjo, não é fácil ser escolhida, essa é uma tarefa pra poucas. Para todas deixo meu abraço, e uma prece para que Deus dê o consolo para o papai, que também sofre, muitas vezes calado para dar força a mamãe.