Minha esposa, Flávia Cunha, criou essa página e preciso confessar que acho a atitude dela perfeita, louvável e digna de toda minha admiração. O motivo pelo qual eu venho escrever sobre minha perda e meu sofrer é que isso chegue a outros homens que passaram ou estão passando pela perda de um filho ou filha. Ahhh, e não só eles, mas para que as mulheres também possam entender um pouco mais sobre nossa maneira de sofrer e tentar racionalizar esse sofrimento.
Dentro de todo homem existe algo muito forte, e que vem desde os primórdios… O INSTINTO DE PRESERVAÇÃO e a luta para que vá tudo bem dentro de seu lar. Quando perdemos o CONTROLE sobre alguma situação, isso nos desestrutura completamente, isso nos irrita profundamente, isso nos deixa inquietos, tristes, melancólicos ou explosivos demais.
Quando a Marcela faleceu, isso me impactou demais! Eu estava sem dúvida alguma muito triste, muito abalado, sem chão, sem rumo. Não sentia vontade de fazer mais nada em minha vida. Minha grande vontade era entregar os pontos e desaparecer!!! Mas nesse momento parece que uma “APARENTE FORÇA” nos possui de uma maneira tão violenta, que pode até parecer para nosso cônjuge que não estamos “sofrendo tanto”… mas não é isso! Aliás, LONGE DISSO! O que entra em cena é esse instinto de preservação, de proteção!
Ver minha esposa quase desfalecendo de tanto chorar me fazia entrar em PÂNICO! Eu já havia perdido a Marcela, eu não poderia perder a Flávia de maneira alguma. Infelizmente eu não posso fazer mais nada pela Marcela, mas pela Flávia eu posso, e PRECISO FAZER ALGO!
E esse instinto é tão forte dentro de um homem, que quando eu sentia vontade de chorar e pirar, colocando meu sofrimento todo pra fora, eu não fazia pelo simples fato de não aumentar ainda mais o sofrimento de minha esposa. O sentimento de “NÃO POSSO PERDÊ-LA” é voraz.
Agora, existe algo muito perigoso em ser completamente dominado por esse instinto de preservação, mesmo sabendo que ele é saudável. Sua esposa PRECISA saber o que você está sentindo. É… eu sei que não é fácil! NÃO É MESMO! Quando eu estou sofrendo eu prefiro ficar calado, na minha, sem ter que dar satisfação a ninguém. Agora, MARIDOS, mesmo quando vocês estiverem nesta mesma VIBE, falem para suas esposas.
Digam: – Amor, eu estou triste, estou mal por causa da Marcela… quero ficar quieto, quero viver minha dor em silêncio nesse momento. Não quero sair, não quero ver ninguém, etc…etc…etc…
Agora, evitem dizer em tom grosseiro: – NÃO É NADA.
É importante lembrar que essa dor também é dilacerante para elas.
Ah, outra coisa que preciso compartilhar com vocês, homens!
“PSICÓLOGO NÃO É COISA DE GENTE FRESCA, OK?”
É, eu estou falando isso porque eu era do grupo que pensava exatamente isso! “Dos meus problemas cuido eu e ponto”. Agora, quando a Marcelinha faleceu, eu acabei cedendo aos apelos da Flávia e fui procurar ajuda para colocar meus pensamentos em ordem. Foi a melhor atitude que tomei.
Aprendi a entender os “SINAIS” da minha esposa e mais, aprendi a sinalizar também. Entendi muita coisa sobre meus comportamentos e com o tempo tenho aprendido a questionar o que estou sentindo e, nesse questionamento, aprendo a como administrá-los melhor.
Bom, sei que homens não gostam muito de ler e são muito práticos! Então vou elencar alguns pontos importantes e diretos para finalizar.
1- O homem sofre e sofre muito!
Porém muitas vezes fica irritado, quieto, explosivo ou melancólico por ter perdido o controle da situação e acaba sempre levando para o lado de que “NÃO TEM MAIS O QUE FAZER, ENTÃO BOLA PRA FRENTE”. Essa atitude acontece pois ele quer trazer novamente a paz para seu lar, e se sentir novamente no controle. Ah, e isso não é machismo, isso é um instinto natural do homem.
2- Falar sobre o que está se sentindo é importante!
Seja raiva, indignação, tristeza, ira, etc…etc…etc… FALE, isso ajudará a ambos, quem fala e também quem ouve.
3- Quando sua esposa chorar, não tente interromper o choro dela…
Se ela não chorar na sua frente, ela vai chorar na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê, acredite. Então, seja humano e, se ela chorar, fique ao lado dela. Ah, e se ela quiser ficar sozinha, respeite, é importante.
4- Não deixe de procurar a ajuda profissional!
Um bom psicológo pode ajudar e muito a entender o momento que você está vivendo e mais! Ele pode te ajudar a ajudar a sua esposa, o que é MUITO importante nesse momento.
5- Essa dor não some nunca… é, não SOME NUNCA!
Você aprende a conviver com ela. E quando ela surgir, viva sua crise, fique triste, afinal você não perdeu seu celular, você PERDEU UM FILHO.
6- Nunca deixe de sonhar.
É, sei que isso parece um pouco auto-ajuda… mas é algo muito real. Quem deixa de sonhar, deixa de viver. Eu e minha esposa temos o sonho de ter um filho(a) e por isso lutaremos! Medos surgirão e nos acompanharão, é fato! Mas se temos esse sonho, vamos lutar e lutar muito até ouvir aquela deliciosa e harmônica melodia que é um choro de neném.
E para terminar MESMO… me coloco à disposição para qualquer questionamento, para amizades, para um bate-papo no bar do zé, ou qualquer outro lugar.
Seu amigo,
Marcelo