Uma pergunta simples, uma pergunta como qualquer outra, uma questão tão normal … Mas para aqueles que perderam um bebê não é.
Você hesita, fica em silêncio, pensa em frações de segundos e, instintivamente responde: “dois”, “três” se você tem filhos vivos, ou “não tenho” se o seu único filho tem asas de anjo e conseguir vê-lo, aparentemente, não é o assunto da conversa, mas por dentro você se martiriza, vem a culpa, você sente que traiu seu bebê, ou o rejeitou pois, você tem um filho no céu e o negou .
As primeiras vezes que isso me aconteceu, rapidamente disse que tinha dois filhos e logo mudei de assunto e, em seguida, me senti mal por ter ficado calada. Mas disse à mim mesma que eu tinha que contar todos eles, porque eles são meus filhos, e no fim, estava naquele silêncio constrangedor que faz todo interlocutor terminar se desculpando ou abruptamente mudar de assunto.
Mas como você pode responder a essa pergunta inevitável sem se tornar um martírio emocional e cansativo?
Eu tenho pensado muito sobre isso e meu filho mais velho tem me ajudado a refletir nessa questão. Um dia ele chegou irritado e triste da escola porque um colega de quarto o havia ridicularizado por seus irmãos falecidos, e nesse momento lhe disse para não ficar irritado porque seu colega não tinha passado por algo assim e, portanto, não entendia e enfatizei que meu filho não devia explicações para ninguém, somente para aqueles em quem sentisse confiança para falar a respeito.
Aqui está a resposta: Se a pessoa que lhe pergunta lhe inspira confiança em você contar o que houve, responda-lhe com a verdade.
Apenas uma semana atrás, eu tive que ir resolver algumas pendências na documentação do meu filho e chegando lá uma senhora me questionou quantos filhos eu tinha. Contei minha história, e ela me pediu desculpas e me deu a confiança para continuar a lhe contar tudo. Falei sobre todo meu caso e foi bem bacana falar sem desconfortos, silêncios ou incômodos.
Não precisamos nos sentir culpados ou achar que estamos traindo nossos anjinhos, mas nem todos merecem uma explicação. Devemos deixar-nos guiar pelos nossos instintos e saber a quem responder, mesmo um completo estranho pode nos trazer confiança e assim, nos sentirmos seguros e à vontade para falar a respeito.