Quando minha irmã se sentou comigo no sofá e me contou que estava grávida de seu terceiro filho, apenas alguns meses após eu ter perdido a minha primeira filha, lágrimas desceram pelas minhas duas faces. Eu senti as duas coisas ao mesmo tempo: tristeza e alegria.
Eu queria assegurar para ela que eu estava feliz por esta nova vida crescendo dentro dela, enquanto ao mesmo tempo eu não conseguia evitar que esta nova onda de tristeza me atingisse porque eu desejava que um bebê saudável estivesse crescendo dentro de mim. Ela sabia disso e me disse que tudo bem eu me sentir dessa forma, que eu nem precisava ficar feliz e que ela também estava experimentando a tensão dessas emoções. Que liberdade ela me deu naquele dia, para abraçar a alegria e a dor que faziam parte da minha nova realidade no luto!
Estes momentos com minha irmã foram alguns dos primeiros, depois de eu perder minha primeira filha, nos quais eu senti que a alegria de outra pessoa se misturava com a minha própria dor. Foi o sentimento dessa alegria em uma nova vida, um novo sobrinho e a dor da minha própria perda. Era desconfortável e perturbador.
Não posso ter uma emoção sem a outra?
Pode ser fácil nesses momentos, para quem está experimentando a alegria, pensar ou mesmo dizer (mas por favor, não faça isso!): “Você não pode ficar feliz por mim?”.
Felizmente, essas não foram as palavras que minha irmã me disse ou mesmo pensou. Em vez disso, ela se sentou comigo na dor e na alegria que coexistiu, permitiu-me celebrar com ela quando pude e chorou comigo quando eu não pude. Talvez essas palavras tenham sido ditas a você enquanto lutava com a sua própria dor e tristeza ou talvez você tenha pensado: “Por que eu não posso ficar feliz por elas ao invés de sentir essas intensas emoções, aparentemente contraditórias, de alegria e dor crescendo em mim?” Ou talvez como eu, você só desejasse que essas emoções não colidissem tão constantemente como agora.
Sentir alegria e dor é difícil!
Em nossa cultura ocidental, é difícil se permitir viver as emoções da dor e da alegria, tanto para os que estão em luto quanto para a pessoa que está vendo o outro em luto. Nós gostamos de coisas mais racionais, mais confortáveis, mais compreensíveis. Hoje eu me sinto feliz. Hoje estou triste. Mas para aquele que está em luto, essas emoções são de ida e volta e muitas vezes acontecem nos mesmos momentos, ou nas mesmas respirações. Posso compreender muito mais as minhas emoções quando elas não estão uma bagunça. Mas o sofrimento é confuso e bagunçado.
Antes de perder minha filha, eu não entendia de verdade esta colisão de emoções tão intensas, eu nunca as tinha experimentado tão assustadoramente juntas e ao mesmo tempo. A maior parte da minha vida tinha sido bastante fácil. Em um casamento ou um chá de cozinha, em um chá de bebê ou quando descobria que alguém estava grávida, sentia alegria.
Mesmo quando eu estava solteira e desejava me casar, descobria que outra pessoa estava se casando e não evocava o mesmo tipo de emoções intensas que surgiam quando eu descobria que alguém estava tendo um bebê depois de ter perdido a minha.
Alegria e tristeza caminham juntas…
Claro, eu não desejava a perda de um filho para ninguém, não queria que alguém tivesse que suportar a dor de saber que seus filhos morreram, eu só queria não ter perdido a minha filha. Hoje, vários anos depois, são outros momentos marcantes dos filhos dos meus amigos que me fazem lembrar – às vezes de forma clara, outras vezes mais sutis – dos momentos que estou perdendo. São as emoções que surgem nas pessoas que viveram o luto e são as emoções daqueles que reconhecem que vivemos em um mundo onde a alegria e a tristeza estão sempre juntas.
[…] Ver essas verdades de novo trouxe uma paz estranha à minha alma, saber que não estou sozinha nessas emoções entrelaçadas.
Não existe apenas alegria e não existe apenas dor.
À medida que o tempo passou, minha alegria tornou-se mais doce, não separada da dor, mas por causa dela. Eu ouço que uma nova vida está se formando e meu coração torce, com dor e também alegria, pelo precioso e valoroso dom da vida.
Alguns meses atrás, enquanto passava um tempo com minha melhor amiga Julie e suas duas filhas, as meninas ouviam a música de La La Land. Peguei-as pelas mãos e giramos e dançamos e meu coração estava cheio de alegria. E de repente lá estavam elas novamente, lágrimas de tristeza que me lavaram quando imaginei o que seria dançar e girar com minhas duas garotas que teriam a mesma idade que as dela. Eu sofri pelas minhas filhas naquele momento, desejando o dia em que eu iria experimentar dançar com elas, ao mesmo tempo em que eu estava agradecida por esses preciosos momentos com as meninas da minha melhor amiga, que eu também amo muito.
Como aceitei mais rapidamente a realidade de que essas duas emoções colidirão constantemente, tenho sido mais capaz de me alegrar com aqueles que se alegram e chorar com aqueles que choram. Cresci permitindo que essas emoções estranhas, e muitas vezes irreconciliáveis, existam juntas.
Estou percebendo que meus sentimentos de tristeza e dor não significam que eu não estou feliz por aqueles que experimentam alegria, e meus momentos de alegria não significam que eu ainda não estou triste e com saudade daqueles a quem amei e perdi.
Não tem sido fácil, mas foi e continua sendo (na maior parte das vezes) uma doce jornada de aceitar que não existe apenas alegria e não existe apenas dor e uma não cancela a outra.
Na aceitação descansa a paz
Uma mulher sábia chamada Elisabeth Elliot disse uma vez “na aceitação descansa a paz”. Ao longo do tempo, quando eu comecei a aprender a aceitar e abraçar as emoções sempre entrelaçantes de alegria e dor, uma maior paz surgiu. E essa paz não veio quando minhas emoções se elevavam, mas no meio delas. Quase nunca (ou nunca) gosto de sentir que minha realidade inclui tal perda, mas lembro-me de que não sou a única a andar nessa jornada de dor. E certamente não sou a primeira a começar a aprender como é ter alegria junto com a dor.
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